Em um estudo recente divulgado pela Sports Value, o ano de 2024 foi histórico para as finanças do futebol brasileiro. Os 20 clubes com maiores receitas somaram impressionantes R$ 10,9 bilhões, um crescimento de 21% em relação a 2023. No entanto, por trás desse avanço, se esconde um quadro alarmante: um déficit agregado de R$ 1 bilhão e dívidas que já somam mais de R$ 12 bilhões. Até a divulgação do resultado alguns clubes da Série A não haviam divulgado seus balancetes: Botafogo, Juventude, Atlético-MG (disponibilizou dados não auditados) e o Vasco SAF (publicou poucas informações não auditadas)

Lei Geral do Esporte: transparência ainda é desafio
A Lei Geral do Esporte estabelece que todos os clubes que mantêm atletas profissionais em atividade devem publicar seus balanços financeiros até 30 de abril de cada ano. A exigência vale tanto para associações civis quanto para Sociedades Anônimas do Futebol (SAFs) e tem como objetivo aumentar a transparência e a responsabilidade na gestão esportiva. No entanto, o cumprimento da norma ainda é um desafio, especialmente entre os clubes de menor expressão. Um exemplo claro é o dos clubes piauienses, que, em sua maioria, ou não divulgam os balancetes e se divulgam apenas uma minoria tem o a essas informações. O descumprimento da regra pode acarretar sérias penalidades, incluindo inelegibilidade dos dirigentes por até cinco anos, afastamento da gestão e perda de benefícios como o Profut Conselho Federal de Contabilidade e sejam auditados por empresas independentes, assegurando a credibilidade das informações.
Transferências e bilheteria impulsionam receitas
Boa parte do aumento de receita se deve às transferências de jogadores, que geraram mais de R$ 2,9 bilhões. Outro destaque foi a bilheteria e a exploração dos estádios, que juntos representaram novos R$ 148 milhões. O marketing esportivo também teve papel relevante, contribuindo com R$ 500 milhões.
Torcedor: um ativo pouco valorizado
Mesmo com tantas fontes de receita, muitos clubes ainda negligenciam o principal pilar de sustentação de um clube de futebol: o torcedor. Apenas os sócios-torcedores geraram R$ 126 milhões em 2024. Quando reclassificado no conceito "matchday" (incluindo sócio e bilheteria), o valor alcança R$ 1,9 bilhão, um crescimento de 27% em relação ao ano anterior.
Ranking de receitas e dívidas: contrastes gigantes
- Flamengo liderou as receitas com R$ 1,33 bilhão.
- Palmeiras veio em seguida, com R$ 1,27 bilhão.
- Corinthians, mesmo com R$ 1,11 bilhão em receitas, acumula a maior dívida: R$ 1,9 bilhão.
Outros clubes como Atlético-MG, Vasco SAF e Cruzeiro SAF também enfrentam situações delicadas, com ivos que superam R$ 900 milhões.
Maiores receitas do futebol brasileiro em 2024:
Clube | Receita (R$ milhões) |
Flamengo | R$ 1.334 |
Palmeiras | R$ 1.274 |
Corinthians | R$ 1.115 |
São Paulo | R$ 732 |
Fluminense | R$ 684 |
Atlético-MG (SAF) | R$ 657 |
Athletico-PR | R$ 573 |
Internacional | R$ 517 |
Grêmio | R$ 509 |
Vasco (SAF) | R$ 474 |
Santos | R$ 459 |
Red Bull Bragantino | R$ 425 |
Cruzeiro (SAF) | R$ 372 |
Bahia (SAF) | R$ 298 |
Fortaleza (SAF) | R$ 258 |
Maiores dívidas do futebol brasileiro em 2024:
Clube | Dívida (R$ milhões) |
Corinthians* | R$ 1.902,1 |
Atlético-MG (SAF) | R$ 1.400,0 |
Cruzeiro (SAF) | R$ 981,1 |
Vasco (SAF) | R$ 928,5 |
São Paulo | R$ 852,9 |
Internacional* | R$ 834,8 |
Palmeiras* | R$ 825,3 |
Bahia (SAF) | R$ 821,0 |
Santos | R$ 645,2 |
Fluminense | R$ 632,8 |
Grêmio | R$ 562,3 |
Botafogo (SAF) | ND |
Red Bull Bragantino | R$ 414,2 |
Flamengo | R$ 353,5 |
Vitória | R$ 307,2 |
Fortaleza (SAF) | R$ 115,3 |
Ceará | R$ 56,9 |
Atlético-GO (SAF) | R$ 30,9 |
Athletico-PR | R$ 0,0 |
Cuiabá (SAF) | R$ 0,0 |
* Dívida do Corinthians: sem o valor do estádio, que foi de R$ 1,2 bilhão em 2024.
* Dívida do Palmeiras: sem o valor do estádio, que foi de R$ 438 milhões em 2024.
* Dívida do Internacional: sem o valor do estádio, que foi de R$ 641 milhões em 2024.
Quem lucrou e quem afundou em 2024
Apenas seis clubes conseguiram fechar o ano com superávit. O Palmeiras liderou com R$ 198,2 milhões de lucro. Já o Bahia SAF e o São Paulo figuram entre os maiores prejuízos, com perdas de R$ 246,5 milhões e R$ 287,6 milhões, respectivamente.
Clube | Lucro |
Palmeiras | R$ 198,2 milhões |
Cuiabá | R$ 64,8 milhões |
Grêmio | R$ 43,6 milhões |
Red Bull Bragantino | R$ 31 milhões |
Athletico-PR | R$ 23,4 milhões |
Fluminense | R$ 100 mil |
Atlético-MG | Não divulgado |
Botafogo (SAF) | Não divulgado |
Flamengo | R$ -700 mil |
Ceará | R$ -5,7 milhões |
Internacional | R$ -34,5 milhões |
Vitória | R$ -41,3 milhões |
Atlético-GO | R$ -45 milhões |
Fortaleza | R$ -80,3 milhões |
Vasco (SAF) | R$ -92,1 milhões |
Santos | R$ -105,2 milhões |
Coritiba | R$ -139,4 milhões |
Cruzeiro (SAF) | R$ -169,9 milhões |
Corinthians | R$ -181,8 milhões |
Bahia (SAF) | R$ -246,5 milhões |
São Paulo | R$ -287,6 milhões |
Transparência é caminho sem volta
Para um mercado cada vez mais profissionalizado, transparência financeira não pode ser opcional. Os torcedores e investidores exigem clareza, e a sustentabilidade dos clubes depende disso. A aplicação efetiva da Lei Geral do Esporte e a fiscalização por parte das entidades esportivas são os essenciais para consolidar um novo padrão de gestão.
Resumo do Artigo
- Clubes brasileiros arrecadam R$ 10,9 bi em 2024, alta de 21%.
- Dívidas dos 20 maiores clubes superam R$ 12 bi.
- Transferências de jogadores geram R$ 2,9 bi.
- Palmeiras lidera em lucro; São Paulo e Bahia têm os maiores prejuízos.
- Lei Geral do Esporte exige publicação de balanços até abril sob pena de sanções.
*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do GP1
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